1 de dezembro de 2011

O Sufismo


“Eu quero ser nada…para poder compreender tudo”
Shaykh Hisham Kabbani

O Sufismo (em árabe: تصوف) tem sido reconhecido há muito tempo como representantes da espiritualidade e detentores dos conhecimentos e práticas do caminho místico, no despertar da espiritualidade humana, e no resgate da relação do ser humano com o Divino, na busca do desenvolvimento pleno de sua consciência e suas infinitas potencialidades.

A melhor aproximação na definição de Sufismo reside em um de seus próprios atributos, o Caminho. Uma via que dá acesso ao "Ser Humano Desperto". Tendo um caráter universal, mesmo estando ele ligado ao contexto do mundo Islâmico. Encontramos no Sufismo aspectos das tradições da antiga Pérsia, Egito, Grécia, e outras. Vemos nos seus saberes e práticas, um conhecimento mais amplo que praticamente sintetiza os elementos mais diversos. O Sufismo tem como objetivo o retorno do ser humano à sua dimensão mais perfeita aproximando-o ao Divino, como qualquer caminho místico verdadeiro. Apesar de ser uma corrente universal, é fortemente designada como a corrente mística e contemplativa do Islão, cujos conceitos principais são a confiança em Deus (tawakkul) e a privação (tajrid), tendo os sufistas atribuido a si próprios duas vias para acederem a estes compromissos: o amor divino (mahabba) e o zikr, ou seja, a invocação repetida do nome de Deus.

Os praticantes do sufismo, conhecidos como sufistas, procuram desenvolver uma relação íntima, directa, continua e de comunhão fiel com Deus, como se fossem um só, utilizando, dentre outras técnicas, da prática de cânticos, contemplação, meditação, música, meditação, êxtase e dança.

O sufismo é o caminho do conhecimento de nós mesmos. É uma disciplina que ensina cada um a ciência que permite descobrir a verdadeira realidade do seu ser e, finalmente, a realidade da religião. É também chamada de Islão do coração ou Islão do amor, dado que os Sufis não se regem pela sua mente, mas pelos seus sentimentos e intuição. Defendem e desenvolvem a tolerância e a busca incessante do conhecimento.
Para os sufistas muçulmanos, a origem histórica da sua religiosidade pode ser encontrada nas práticas meditativas do profeta Maomé. As origens do Sufismo remontam ao tempo do próprio profeta Muhammad (rassul Allah sallallâhu alayhi wa sallam), podendo advir dessa altura a própria designação Sufista, a gente do sofá, dado que os seguidores do Profeta se sentavam com ele num sofá na sua casa em Medina. Outras possibilidades são ter origem na palavra Assafaa (pureza) ou as-Suf (a lã), dado que os primeiros sufis se vestiam com lã. Este tinha por hábito refugiar-se nas cavernas das montanhas de Meca onde se dedicava à meditação e ao jejum. Foi durante um desses retiros que Maomé recebeu a visita do anjo Gabriel, que lhe comunicou a primeira revelação de Deus.

Este entendimento de que o Profeta foi o primeiro Sufista tem por base a forma esotérica e mística de como o Corão lhe foi revelado e o carácter de confraria existente entre ele e os seus mais próximos: a sua filha Fátima e o seu genro Ali Ibn Abu Talib. O pensamento sufista fortaleceu-se no Médio Oriente no século VIII, e encontra-se hoje por todo o mundo, entretanto sua origem é atemporal. Na Indonésia, assim como muitos outros países da Ásia, Oriente Médio e África, o Islamismo foi introduzido através das ordens sufistas.
De acordo com as grandes escolas de jurisprudência islâmica, o sufismo é considerado como um movimento herético, tendo sido, por isso, perseguido inúmeras vezes ao longo da história.

As mulheres no misticismo Sufista, ganharam por via do Islão um estatuto igual ao dos homens, sendo-lhes reconhecido o direito à herança e ao divórcio, coisa que na Europa ainda tardaria uns séculos. 

“Quando tu te conheces, o teu ego ilusório desaparece e tu não és outro senão Deus”

 O Sufismo é a via capaz de devolver ao Islão o seu papel de doutrina espiritual compatível com uma sociedade moderna, democrática e igualitária entre sexos, separando a religião dos códigos civis e judiciais, e tirando a grande maioria dos países muçulmanos do obscurantismo e ignorância em que se encontram.
Esta doutrina assenta no princípio de que existe uma verdade escondida e inatingível, ou seja, que a busca pelo conhecimento e perfeição é realizada com a noção de que o conhecimento e perfeição nunca serão atingidos.

No livro Sufismo, Molana-al-Moazam Hazrat Salaheddin Ali Nader Angha "Pir Oveyssi",  diz:
"O sufismo é a essência dos ensinamentos do profeta. Existe desde o início da história da humanidade, pois a sua semente encontra-se em cada coração humano. Em cada época, Deus enviou profetas para liderar as pessoas até ao conhecimento "Dele", Zoroastra, Buda, Moisés, Jesus, Maomé, para nomear alguns. Cada profeta deu à humanidade instruções únicas que deviam ser aprendidas e dominadas, de modo a progredir para a jornada íntima até Deus."

Os sufis acreditam que Deus é amoroso e o contacto com ele pode ser alcançado pelos homens através de uma união mística, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, foram, muitas vezes, acusados de blasfémia e perseguidos pelos próprios muçulmanos esotéricos, pois contrariavam a ideia convencional de Deus.

Todos os Sufistas sabem que a absorção no tema do amor conduz ao êxtase. Mas enquanto os místicos cristãos consideram o êxtase como a união com Deus e, portanto, o ponto culminante da consecução religiosa, os sufistas, só lhe admitem o valor se ao devoto for facultado, depois do êxtase, voltar ao mundo e viver de forma que se harmonize com sua experiência.

O sufismo é a escola do conhecimento de nós mesmos. É uma disciplina, um sistema de educação que facilita a jornada do conhecimento de nós mesmos. Ensina a cada um a ciência da exploração do seu próprio ser e a expandir o conhecimento inerente no seu seio, que é vasto e infinito. O Profeta Maomé (que a paz esteja com ele) disse: "Tu sê Tu", que significa, conhece-te a ti próprio, a tua realidade é a realidade da existência.

São muitos os que se apelidam de sufista, centenas, talvez milhares. Mas o sufismo requer um certo número de condições que reduzem este número para metade, tendo em conta a técnica do êxtase e a ética individual. O sufismo consiste no aperfeiçoamento da condição de crente, um envolvimento pessoal na procura de sentido e na sua busca pela união com o Criador.

Os Sufistas buscam incessantemente o conhecimento e a sabedoria através da meditação, de práticas iniciáticas e da transmissão do conhecimento no seio de confrarias dirigidas por um Mestre ou Shaykh. Essas práticas assentam não só no isolamento e solidão, como no êxtase e embriaguez da alma. 

Resumindo, o sufismo é uma disciplina, um sistema de educação que facilita a jornada para o conhecimento de si próprio. Esta jornada permite ao indivíduo descobrir a sua realidade estável e, no final, a realidade da religião.

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