A maior parte das pessoas procuram um esclarecimento a respeito da reencarnação (…) Foi assim que me decidi a consultar a biblioteca médica para verificar se existiam outras investigações. O clínico lógico e ortodoxo que existia em mim aprovou esta solução do problema, e eu esperava que existisse uma tal confirmação. Se eu tinha tropeçado acidentalmente numa recordação de vidas passadas, estava convencido de que outros psiquiatras, usando técnicas hipnóticas, também tivessem tido experiências similares. Talvez um deles tivesse tido a coragem suficiente para relatar aquilo que se havia passado.
Senti-me desapontado quando encontrei apenas um número muito reduzido de relatórios de investigação, embora qualquer deles fosse excelente. Encontrei por exemplo a documentação de casos do Dr. Ian Stevenson, em que crianças recordavam aparentemente detalhes de vidas passadas. Muitos desses detalhes seriam corroborados mais tarde por investigações efectuadas. Isto era muito importante porque contribuía para fornecer provas que confirmavam o conceito de reencarnação. Mas pouco mais ou mesmo quase nada podia ser encontrado a respeito do valor terapêutico da regressão a vidas passadas.
Saí da biblioteca ainda mais frustrado do que quando entrara. Como é que isto era possível? A minha própria experiência já me permitira estabelecer uma hipótese de que a recordação de vidas passadas podia constituir uma ferramenta terapêutica muito útil para uma enorme variedade de sintomas psicológicos e físicos. Porque é que mais ninguém apresentara um relato da experiência que tivera? Além disso, porque é que não havia praticamente nenhum material na literatura profissional da experiência de vidas passadas que emergisse durante a hipnoterapia clínica? Não me parecia provável que essas experiências pudessem ser exclusivamente minhas. De certeza que outros terapeutas também as haviam tido.
Fazendo uma retrospectiva consigo vislumbrar que aquilo que eu queria de facto era encontrar alguém que já tivesse feito o trabalho que eu iria executar dentro em breve. Nessa altura só conseguia tentar imaginar se existiriam outros terapeutas tão hesitantes como eu para seguir em frente. (…) Recordava como as principais tradições do Oriente, o Hinduísmo e o Budismo, defendiam a reencarnação como um dogma fundamental, e como nessas religiões o conceito de vidas passadas é aceite como um aspecto básico da realidade. Aprendi igualmente que a teoria Sufi do Islão apresenta uma tradição muito bela a respeito da reencarnação, transmitida sob a forma de poesia, dança, e canções.
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No Judaísmo, uma crença fundamental na reencarnação, ou gilgul, existiu durante milhares de anos. Essa crença constituiu uma pedra angular da fé judaica até cerca de 1800-1850, altura em que a urgência de "modernizar" e de ser aceite pelo sistema ocidental mais científico transformou as comunidades judaicas da Europa Oriental. No entanto e até essa altura, portanto há menos de dois séculos, a crença na reencarnação foi fundamental e constituiu um dos conceitos básicos. Nas comunidades Ortodoxa e Chasidic, a crença na reencarnação ainda hoje se mantém inabalável. A Cabala, literatura mística judaica datando de há muitos milhares de anos, está cheia de referências à reencarnação. O Rabi Moshe Chaim Luzzatto, um dos mais brilhantes académicos hebraicos dos últimos séculos, definiu o gilgul, na sua obra The Way of God: "Uma alma individual pode ser reencarnada por diversas vezes em diferentes corpos, e desta maneira pode corrigir o mal causado em encarnações anteriores. De modo análogo, também pode atingir um grau de perfeição que não conseguira em encarnações prévias."
Quando estudei a história da cristandade, descobri que referências primitivas à reencarnação existentes no Novo Testamento haviam sido eliminadas no século IV pelo Imperador Constantino quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano. Segundo parece, o imperador terá sentido que o conceito de reencarnação ameaçava a estabilidade do império. Os cidadãos que acreditassem que poderiam ter uma outra oportunidade de vida poderiam mostrar-se menos cumpridores da lei do que aqueles que acreditavam num único Dia do Juízo para todos.
No século VI, o Segundo Concílio de Constantinopla reforçou a atitude de Constantino, declarando oficialmente que a reencarnação era uma heresia. Como acontecera no caso de Constantino, a Igreja receava que a ideia de vidas anteriores enfraquecesse e minasse o seu poder crescente, concedendo aos fiéis demasiado tempo para procurarem a salvação. Chegaram à conclusão de que o látego do Dia do Juízo era necessário para garantir as atitudes e comportamento adequados.
Durante a mesma Era Cristã Primitiva, que se prolongou até ao Concílio de Constantinopla, outros sacerdotes da Igreja como Orígenes, Clemente de Alexandria, e S. Jerónimo, aceitaram e acreditaram na reencarnação. O mesmo se passou com os Gnósticos. Muito mais tarde, por volta do século XII, os Cristãos Cátaros de Itália e do Sul de França foram severamente perseguidos por causa da sua crença na reencarnação.
Enquanto reflectia sobre todas as informações que reunira, cheguei à conclusão de que para lá da sua crença na reencarnação, tanto os Cátaros como os Gnósticos ou os Cabalistas, todos tinham um outro valor em comum: uma experiência pessoal muito para além daquilo que somos capazes de ver ou de apreender com as nossas mentes racionais ou aquilo que é ensinado por uma estrutura religiosa é uma fonte básica de sabedoria espiritual. E esta experiência pessoal directa promove de uma forma poderosa um crescimento espiritual e pessoal. Infelizmente, a partir do momento em que as pessoas começaram a poder ser punidas por crenças não ortodoxas, os grupos aprenderam a mantê-las em segredo. A repressão dos ensinamentos de vidas passadas foi uma questão política e não espiritual.
Quando perguntei aos membros do clube se alguma vez haviam experimentado pessoalmente qualquer fenómeno psíquico, fiquei surpreendido com a quantidade e veemência das respostas que recebi. Não nos esqueçamos de que não se tratava de um grupo pré-seleccionado, metafisicamente orientado, que pudesse ter um interesse especial em percepção extra-sensorial, acontecimentos psíquicos ou reencarnação. Tratava-se apenas de um grupo de dez mulheres que gostavam de ler e de discutir muitos e diferentes tipos de livros.
Uma vez a mãe de um dos elementos do grupo recebera em sonhos a visita da avó, que era de certa idade embora não estivesse doente. No sonho a avó estava radiante e brilhava, envolta numa luz de um branco dourado. Disse à neta: "Estou bem, não te preocupes comigo. Agora tenho que partir. Tem cuidado contigo." No dia seguinte a mãe veio a descobrir que a avó morrera durante a noite numa cidade distante.
Outra mulher sonhara com um parente do sexo masculino mais velho, alguém a respeito do qual há muito tempo não pensava e muito menos tivera contactos. No sonho havia sangue no peito do seu parente. Sem que ela tivesse tido o menor conhecimento a seu respeito, fora sujeito a uma operação de coração aberto no dia anterior.
Um outro membro deste pequeno grupo sonhara repetidas vezes com o filho. Nestes sonhos o filho, que sempre tivera uma saúde de ferro, tinha o aspecto de estar gravemente ferido. Este elemento do clube do livro viu-se num quarto de hospital onde estava o filho e onde ecoava uma voz forte e misteriosa que dizia o seguinte: "Está a ser-lhe devolvido." Sentia-se confusa porque o rapaz do sonho, que ela sabia ser seu filho, tinha o cabelo muito mais escuro do que o cabelo do seu verdadeiro filho. O sonho repetiu-se inúmeras vezes durante um mês. No final do mês o filho ficou gravemente ferido quando seguia de bicicleta e foi atropelado por um automóvel. No hospital este membro do clube do livro disse aos preocupados médicos que o filho recuperaria. Não tinha a menor dúvida a este respeito; a voz dissera-lhe precisamente isso. Com o rosto enfaixado em ligaduras, o rapaz recuperou lentamente. Quando lhe retiraram as ligaduras, o cabelo que lhe crescera depois de lhe terem rapado o crânio era muito mais escuro. A mulher nunca mais voltou a ter este sonho.
Outra mulher contou ao grupo o que se passava com o seu filho de dois anos e meio que parecia ter um conhecimento enciclopédico sobre factos que nunca presenciara. "Deve ter estado aqui antes", disse ela às amigas.
Uma das suas amigas, uma estomatologista, parecia ter um talento especial para evitar acidentes de tráfico. Uma noite eles, na companhia de vários amigos, estavam a sair de um restaurante e preparavam-se para atravessar a rua. "Recuem para o passeio", gritou de repente, abrindo os braços em frente deles e fazendo com que o grupo recuasse. Não fazia a menor ideia da razão porque estava a fazer aquilo. Segundos depois um automóvel fez a curva absolutamente desgovernado e passou a toda a velocidade a poucos passos do grupo. Algumas semanas depois do incidente seguia de carro no lugar do passageiro, e era o marido que conduzia. Não estava a olhar pela janela e estava tão cansada que se encontrava meio adormecida. "Não avances quando a luz mudar", murmurou a estomatologista quando o marido travou num semáforo. "Alguém vai passar o sinal vermelho." Ainda estava meio adormecida e continuava a não olhar pela janela. Continuava a insistir no seu aviso. Alguns segundos depois da luz ter mudado surgiu de uma transversal um carro a toda a velocidade, cruzando o caminho que tencionavam seguir. Ficaram ambos chocados, mas com vida.
Enquanto limpava a casa, uma das mulheres do grupo sentiu-se "completamente fora de si" ao ser invadida por um pensamento absolutamente claro e convincente de que um velho amigo dela se suicidara. Há meses que não pensava nesse amigo e não tinha o - menor conhecimento de que ele sofresse de problemas emocionais ou de desejos de autodestruição. Mas o pensamento era tão nítido, sem qualquer laivo de emoção e tão convincente que se parecia mais com um conhecimento de facto do que com um pensamento surgido do nada. Era verdade, veio a saber mais tarde. Suicidara-se nesse mesmo dia.
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De certo modo, a recordação de vidas passadas é simplesmente uma das muitas direcções que a muito vulgar e, ao mesmo tempo, muito preciosa experiência de intuição pode tomar. Uma mente que está descontraída e focada, num estado levemente hipnótico, é normalmente mais capaz de ter acesso às reservas inconscientes de orientação intuitiva e de sabedoria do que uma mente normal "desperta", que recebe sugestões aleatórias e espontâneas. Se o leitor alguma vez teve uma experiência intuitiva, um palpite que mais tarde veio a verificar ser verdadeiro, sabe perfeitamente como uma experiência deste género é valiosa e nos dá forças. No caso de uma experiência de recordação de vidas passadas é frequente sentir-se o mesmo. O leitor sente-se como se recordasse, se guiasse e se curasse, de um modo que não tem que explicar ou que provar. Acontece simplesmente; é qualquer coisa que flui livremente. Quando se sente melhor como resultado da sua experiência de recordação, quer tenha sido um sintoma físico que foi aliviado, uma situação emocional que foi acalmada, ou então se sente simplesmente mais confiante e em paz com a sua vida e com o rumo que ela tornou - todos resultados absolutamente normais da terapia de vidas passadas - não sente a menor necessidade de questionar a validade lógica da experiência que teve. Sabe que lhe deu poder para melhorar a qualidade da sua própria vida ou para conseguir uma visão interior de si próprio e dos outros de um modo muito tangível.
Ian Stevenson, Professor e Emérito Director do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Virgínia, reuniu e documentou mais de dois mil casos de crianças que tiveram uma experiência do tipo reencarnação. Muitas dessas crianças evidenciavam xenoglossia, a capacidade de falar uma língua estrangeira, na maioria das vezes uma língua muito antiga, a que anteriormente nunca haviam estado expostos. Normalmente muito novas, estas crianças também conheciam factos detalhados e específicos sobre cidades e famílias que se encontravam a centenas ou milhares de quilómetros e sobre acontecimentos que haviam ocorrido há uma década ou mesmo mais. Metades destas crianças são oriundas do mundo ocidental, não pertencendo a áreas como a Índia, o Tibete ou outras áreas da Ásia onde é vulgar a crença na reencarnação. A maior parte dos detalhes destes casos foram cuidadosamente investigados pela equipa de investigação do Dr. Stevenson.
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Uma mãe perturbada, advogada de profissão, foi-me enviada porque a sua filha de quatro anos estava a comportar-se de uma forma "estranha". Na altura ainda se considerava a probabilidade de internamento em instituição psiquiátrica. O comportamento "estranho" da criança começou a verificar-se depois da mãe ter comprado algumas moedas antigas. Ela e a sua filha, inteligente e até essa altura normal, haviam estado a separar e a brincar com as moedas até que repararam num estranho exemplar multifacetado.
A filha apanhou imediatamente a moeda e disse: "Eu conheço esta. Não te lembras, mamã, quando eu era crescida e tu eras um rapaz e tínhamos esta moeda? Montes delas."
Dr. Brian Weiss em, o Passado Cura