14 de novembro de 2011

Crónicas de Lilia

Lilia conta:

Somos todos uma centelhas divinas do Universo: sem nós, o Todo não existia e sem ele, nós também não estaríamos cá. Ciclos e ciclos que fluem interligados entre si, que co-existem e se alimentam. Partes e partes de um Todo comum.

Não irei falar de mim. As minhas origens ou as minhas circunstancias não têm importância para o meu propósito, uma vez que maior parte da minha vida fui o que fizeram de mim e vivi na realidade que criaram para mim. Só há algum tempo é que consegui compreender que o conceito de verdade ou realidade absoluta não pode existir e que o que eu era e o que acreditava podia ser questionado e recriado. Foi para isso que comecei o meu caminho: um caminho solitário, necessário e sem volta atrás. Poderia sempre parar esse caminho e tentar retroceder. Era uma hipótese possível, contudo não para mim, não para as minhas circunstancias, não para o compromisso com o qual embarguei nele. É algo que tem de ser feito, uma escolha consciente e irrefutável, um chamado que não podia ser negado nem ensurdecido.

E assim, comecei o caminho, com o vento como companhia. Uma vez ouvi que uma das alegrias da vida, das maravilhas do mundo, é o som do vento nas árvores. É uma verdade. No caminho oiço muitas vezes o vento a fazer dançar as folhas das árvores: paro, escuto e olho para cima de mim. Apercebo-me de quão alto está o céu, de quão pequena sou e do espaço imenso que está a toda a minha volta. Vejo as folhas verdes ou castanhas a dançarem, tocando-se entre si. Por vezes, os raios de sol dança através delas e batem-me na cara; outras vezes, pingos de chuva ou de orvalho caiem na minha cara, em mim, à minha volta. Penso na paz interior… gostava de estar neste estado em qualquer lugar, em qualquer altura… de conseguir ver o tempo a parar naquele instante. Comecei a perceber que era um dos muitos momentos em que conseguia sentir a Paz e a Gratidão por fazer parte deste Todo. Estagnada, sinto o imensidão da terra debaixo dos meus pés, a infinidade do espaço por cima da minha cabeça, o poder da Natureza à minha volta e, acima de tudo, a sua presença. Sempre vivi rodeada pela Natureza e foram tão poucos os momentos em que senti a sua presença verdadeiramente. É incrível o inicio da tomada de consciência. É espantoso, tão grandioso e ao mesmo tão simples. Quando começamos a compreender algumas coisas que sempre ouvimos, tal como: “a vida é simples”; “as respostas estão dentro de ti”; “perceber a simplicidade da vida”.